Análise - "O Morcego"

Meia-noite, ao meu quarto me recolho.
Meu Deus ! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho
” Vou mandar levantar outra parede …”
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre minha rede
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A consciência humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto.
Augusto do Anjos tenta explicar nesta composição por meio de uma metáfora o que seria a consciência humana. É um soneto, e como todo soneto, tem a quantidade de linhas igual a 14, tendo as oito primeiras um esquema de rimas ABBA BAAB, e o restante das linhas com um esquema diferente ao anterior sendo CDE CDE.
O eu lírico, no decorrer do soneto, expressa por meio da metáfora do morcego, a consciência humana. Na primeira e segunda linha, a figura do morcego se encontra com o eu lírico no momento em que o mesmo vai se recolher para dormir, o momento no qual estamos tranquilos e geralmente, alguma adversidade nos confronta. Na sexta e sétima linha, a figura do morcego continua a pairar sobre o eu lírico mesmo que, este tenha tentado manter-se imune ao morcego, é quando as adversidades aparecerem e nós tentamos nos esquivar, nos esconder delas, muitas vezes, sem sucesso.
Na nona e décima linha, o eu lírico entra em confronto com o morcego, porém, a tentativa é um fracasso, é quando estamos dispostos a confrontar o problema, e nos livrar deles, e nos questionamos “ Quem causou tudo isso? ”. E por fim, nos últimos versos, o eu lírico revela que a figura do morcego representa a nossa consciência, que fatalmente vem nos visitar para fazer uma auto- avaliação, é no momento em que vamos descansar, á noite, e acaba passando um feedback do dia e dos momentos mais marcantes. Não podemos controlar, é necessário, só sabemos que uma hora, o morcego entrará no quarto.
Hannah Lopes