Análise: Soneto

Canta teu riso esplêndido sonata,
E há, no teu riso de anjos encantados,
Como que um doce tilintar de prata
E a vibração de mil cristais quebrados.
Bendito o riso assim que se desata
- Citara suave dos apaixonados,
Sonorizando os sonhos já passados,
Cantando sempre em trínula volata!
Aurora ideal dos dias meus risonhos,
Quando, úmido de beijos em ressábios
Teu riso esponta, despertando sonhos...
Ah! Num delíquio de ventura louca,
Vai-se minh'alma toda nos teus beijos,
Ri-se o meu coração na tua boca!
Agregado: aglomerado.
Cal: óxido de cálcio.
Rubro: vermelho como sangue.
Brônzea: refinada.
Trama: conjunto de fios.
Neuronal: referente ao sistema nervoso.
Sinergia: ação conjunta.
Morfogênese: forma do corpo
Infante: infantil.
Plasmática: substâncias sem forma.
Panteisticamente: totalmente.
Noúmenon: coisa-em-si (termo criado por Immanuel Kant, filósofo moderno
2º Parágrafo
O Eu Lírico descreve o feto como sendo um agregado de carne e sangue, formado através das fases naturais da fecundação. A “Brônzea trama neuronal” refere-se à contribuição do Eu Lírico para o início deste processo, ou seja, refere-se à contribuição da associação complexa de seu sistema nervoso.
A cal simboliza a morte do filho, pois esta substância é usada para acelerar a decomposição de cadáveres e outros corpos orgânicos.
3º Parágrafo
O Eu Lírico se contesta sobre como foi possível uma complicação embrionária ao acaso produzir fatores que convergissem na capacidade de destruir o feto, que já possuía determinado desenvolvimento (morfogênese de infante).
Também é citado como foi possível essa complicação destruir a antiga forma do Eu Lírico (minha morfogênese ancestral), o que além de fazer referência à Teoria de Heackel, também expressa a angústia de saber que o mesmo poderia ter acontecido com ele durante seu desenvolvimento embrionário.
4º Parágrafo
O Eu Lírico demonstra sua preocupação sobre o destino do feto, pois este terá de ser abortado e posteriormente sepultado, cremado ou doado para fins de pesquisa, dependendo da legislação vigente no país e a vontade dos pais.
5º Parágrafo
O Eu Lírico apresenta sua conformação com a morte do feto, além lamentar por não poder guardar lembranças mais definidas (panteisticamente dissolvido), já que o feto não chegou à vida (Na noumenalidade do NÃO SER).
O último verso cita o noúmenon, um termo usado para referir-se à essência da coisa, ou seja, a ideia primordial, livre de modificações acarretadas pela obtenção pessoal. Através da adjetivação desta palavra o Eu Lírico cria o um termo para designar o mais alto grau de inexistência.
Pedro Aguiar