Análise: Vandalismo

Vandalismo
Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longíquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.
Na ogiva fúlgida e nas colunatas
Vertem lutrais irradiações intensas
Cintilações de lâmpadas suspensas
E as ametistas e os florões e as pratas.
Como os velhos Templários medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos e risonhos…
E erguendo os gládios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus próprios sonhos!
Prisca: antiga, velha, que pertence ao passado.
Nume: divindade, poder celeste.
Ogiva: arco diagonal de uma abóbada gótica.
Fúlgida: fulgurante, luzente, brilhante.
Colunata: série de colunas dispostas com simetria para adornar um edifício.
Verter: derramar, jorrar.
Lustral: que serve para dar brilho.
Florão: ornato, enfeite.
Templário: membro da ordem militar e religiosa denominada Pobres Cavaleiros de Cristo, fundada Jerusalém, com o fim de proteger os peregrinos.
Gládio: espada.
Brandir: agitar com a mão uma espada, uma lança.
Iconoclasta: destruidor de imagens ou ídolos.
O poema Vandalismo, de Augusto dos Anjos, é estruturado em forma de soneto, ou seja, possui dois quartetos e dois tercetos, com um esquema de rima ABAB para os quartetos e CCD para os tercetos. Utiliza no poema uma linguagem considerada vulgar naquele período, essa influência advinda da maioria dos movimentos literários do século XIX aproxima Augusto dos Anjos dos outros autores pré-modernistas. Apesar da aproximação, ele se distancia completamente quanto à temática.
Como recurso estilístico, podemos observar o uso de aliterações, que são a repetição de fonemas idênticos ou parecidos no início de várias palavras na mesma frase ou verso, e assonâncias, que é o nome dado à figura de linguagem que exprime semelhança ou igualdade de sons entre palavras próximas.
O eu lírico fala do seu coração e da grandeza de seus sonhos através das metáforas. O vandalismo figurado no poema, é representado pelo “desespero dos iconoclastas”, indica o momento em que o eu lírico desiste de seus sonhos, o que representa a angústia existencial do autor.
Nicoly Caldeira