Análise: Versos Íntimos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Leonardo Kataki
Assim como a maioria das obras de Augusto dos Anjos, inicia o primeiro verso do poema com uma evocação do leitor para o que o eu-lírico tem a dizer.
Na primeira quadra, Augusto dos Anjos revela que o leitor está excluso da sociedade em que vive. A personificação “quimera” seria como uma referência aos sonhos impossíveis, às fantasias mais inalcançáveis do leitor. Logo após isso, é revelado que o sentimento de ingratidão da humanidade sempre acompanhou o homem, o que significa dizer que os mais belos e ambiciosos pensamentos humanos não recebem a devida atenção, uma vez que a sociedade está ocupada demais se autodestruindo.
Já na segunda quadra, marcada pelo conformismo, é deixado claro que ser social está predestinado ao fracasso e à escória e, já que o homem tem essa verdade absoluta, é inevitável que este torne-se também um destruidor de sonhos.
No primeiro terceto, o conformismo característico de Augusto é visto como mais presente. Esta estrofe, porém, é dedicada à demonstrar como os homens, antes inocentes sonhadores, são corrompidos pela maldade e arrogância.
A última estrofe, e o segundo terceto, o eu-lírico apenas remonta os momentos em que o homem é enganado pelas ações humanas, que se passam por “mãos que te afagam”, fazendo um apelo para que seja compreendida esta verdade: a bondade humana é uma enganação.