
O Poeta dos Mortos
O açúcar foi por muito tempo a base da economia brasileira, e quando essa riqueza começou a exaurir, muitas mudanças transformaram a terra e seu povo. Foi em Sapé, terra paraibana, que o Engenho Pau D´Arco se fez importante na história, servindo de berço a uma identidade puramente brasileira, construída em meio às conturbações da economia dos três séculos do açúcar.
O Engenho do Pau D’Arco foi propriedade do Dr. Alexandre e dona Córdula, um casal conservador com uma família austera e numerosa. Dr. Alexandre era inteiramente devoto às letras, possuidor de uma biblioteca recheada de volumes encomendados da Europa. Teve filhos com a esposa e encarregou-se de educá-los por sua conta desde as primeiras letras até o preparatório para a faculdade. Mas acabou sendo pego pela idade e pela doença, deixando a educação de seu filho caçula nas mãos de seu terceiro filho, este último nascido em 1884.
O terceiro filho de Alexandre foi logo direcionado para área de Direito logo em seus primeiros anos depois de ingressar nos estudos. Concluída a faculdade de Direito em 1907, ele não chegou a exercer as funções que o diploma de advogado lhes oferecia. Sendo assim, começou a dar aulas particulares como professor de Literatura. No mesmo ano, ficou noivo de Ester, também professora.
O início da República e a Abolição agravaram a situação financeira da família, dona de dois engenhos de açúcar. Com esses importantes acontecimentos no país, vieram as novas tecnologias, que começaram a substituir os engenhos por usinas. Consequentemente, o preço as terras e do açúcar caiu. Diante da falta de oportunidades profissionais, ele casou-se com Ester e mudou-se para o Rio de Janeiro. Ester estava grávida de três meses e acabou perdendo o filho. Isso o entristeceu profundamente, levando a escrever vários poemas a seu filho morto.
Enfrentou o desemprego no Rio de Janeiro e logo depois mudou-se para uma cidade em Minas Gerais. O cotidiano entediante, o trabalho incessante e a falta de perspectivas e espaço daquela vida na cidade o levaram a por seu gênio de poeta em prática. Escreveu muitos poemas inspirados em seu desgosto pela vida que levava, além de muitos outros demonstrando seu desafeto pela sociedade e a situação. Hoje, juntos em uma só obra “Eu e Outras Poesias”. Um dia antes de falecer, disse que sua centelha jamais se apagaria, e não se apagou.
Conhecido por Doutor Tristeza pelos críticos, Augusto dos Anjos, terceiro filho de Dr. Alexandre, foi autor de apenas uma obra, e dono de um apocalipse de sentimentos. Tomado por todas as emoções que a vida causou-lhe, expressou toda angústia em versos decassílabos, construindo poemas altamente carregados. Utilizou muitas expressões científicas, e, ao contrário de muitos autores da época, ele usou uma linguagem bastante agressiva. “Eu e Outras Poesias” muitas vezes tende ao macabro, mas é claramente um legado deixado a todos nós pelo autor.
Nicoly Caldeira