A margarina e o álcool
Anahí Cavalcante
Mais uma semana acabou e Carlos está no bar bebendo. Por não gostar de álcool, Belezinha sempre vai atrás do marido, principalmente dia de sexta-feira. Dessa vez ele estava pior. A pobre Belezinha teve que pedir para Bruno colocar Carlos no carro, porém na hora de retirar o marido ela sofreu sozinha. Beleza estava cansada, por isso, o marido precisava por um fim naquilo e tinha que ser naquela noite.
Com muita dificuldade ela subiu até o apartamento e pôs o ele debaixo do chuveiro. Depois disso, como sempre, foi fazer café enquanto chorava em silêncio remoendo tudo que aconteceu. Pois nem sempre foi assim, eles se conheceram na faculdade e ambos eram muito esforçados. Carlos era gentil e atencioso e se tornou um renomado professor de química. Mas tudo mudou quando sua mãe morreu, pois a parte do renomado deu lugar a do bêbado, o que o deixou quase sem emprego.
Assim que o café ficou pronto Carlos voltou do banho e a briga começou. Enquanto ela dizia que aquilo fazia mal pra saúde dele e todo o discurso clássico ele a interrompeu, replicou dizendo que se caso ele morresse por isso seria um alívio pra ele, e ainda jogou em Belezinha a culpa de ser viciada em margarina afirmando que só porque ela escolheu morrer de câncer ao invés de cirrose não a dava o direito de julgá-lo. Belezinha chorou, chorou muito, tomou banho e foi dormir. Carlos dormiu no sofá e nada se resolveu naquela noite.
No mês seguinte o casal foi fazer compras, e como padrão, Carlos pôs oito potes de margarina no carrinho de compras. Belezinha sem dizer nada, tirou quatro portes do carrinho e foram para o caixa. No segundo mês o número foi reduzido a dois potes comprados e assim sucessivamente, até que no quarto mês não tinha mais margarina na casa. Ele vendo a mudança da mulher conseguiu gradativamente diminuir as idas ao bar e começou tratamento médico.
Depois de um ano o casal já estava restabelecido, com Carlos recuperado e com um ótimo emprego, mas esse não foi o único acontecimento. Bruno, amigo de Carlos, ficou noivo de Márcia, uma obcecada por lugares altos, e os convidou para o casamento que aconteceria em uma linda serra.
A cerimônia foi linda, mas não tirou a atenção de Belezinha do copo de Carlos, que poderia vir a ter uma recaída para bebida, o que não aconteceu. A festa acabou, e como nenhum dos dois estava bêbado ou com sono decidiram ir pra casa antes do amanhecer.
Quando estavam no caminho surgiu uma moto muito rápida, mas estava com uma distância boa do carro então não havia risco de batida, porém não, foi uma grande batida. Para a infelicidade do casal a moto na verdade era um carro com um dos faróis quebrados o que fez com que confundissem com uma moto. O carro dos dois foi arremessado no precipício e ambos morreram na hora.
Quando a polícia chegou, encontrou no outro carro uma motorista bêbada, com muitas garrafas de cerveja e um resto de pão com margarina. A mulher foi presa, mas ainda existem pessoas que caminham para morte matando, enquanto outras fogem da morte e acabam morrendo.