Os Imigrantes ao Luar

No céu, a escuridão crescia anunciando a noite e as estrelas saíam de suas moradas e suspensas no ar, eram cristais cintilantes e damas da lua, que parecia flutuar enquanto agraciava, com sua luz brilhante e prateada, as águas do mar, que dançavam, com suas ondas, orquestradas pelos fortes ventos vindos dos cantos do mundo.
As estrelas zodiacais assistiam àquela ocasião que a natureza aprontara para aqueles pobres desgraçados: o mar, descontraído e dançante, invadiu a embarcação e arrastou todos os imigrantes às águas, que os cobriam como se fosse um manto negro e frio. Tudo se tornou indefinido naquele instante e, no mais tardar, o mar cansou-se de dançar e o manto acalmou-se sobre os condenados. O ar luminoso tornava nítida a insignificância daqueles homens ali, regidos pelo poder da natureza, que se fortalecia nos mistérios da noite. A luz, de tão deslumbrante e divina, pintava os vários rostos que ali estavam, e sob o poder dela, o lugar tomava para si um silêncio reli-
Stephanie Meiriño
gioso e divino. Os olhares desesperados refletiam as riquezas de várias cores, brilhavam na dor em forma de ametistas, esmeraldas e mais pedras que guardam consigo as cores mais belas e gloriosas, enquanto a natureza os afogavam nos profundos segredos do oceano. O mundo que agita e perturba, naquele momento calava-se.
Todos ali foram cercados por águas que os faziam inexistir do plano da vida, os sofrimentos desapareciam no fim daqueles olhares, que mais pareciam pedras preciosas, e os viajantes, já abaixo dos mares, eram dominados, como antes eram iluminados pela lua. Os vestígios extinguiam-se nas ondas, que serenas, valsavam a música que o vento criava e a natureza, inocente, sorria mais e mais, como se estivesse contente na conversão de incontáveis vidas em um vão no meio da não importância deles naquele espaço. Um último suspiro, áspero e dolorido, ergueu-se das profundezas e sentiu novamente a luz, mas perdida foi a esperança em meio ao nada, então entregou-se aos céus.
Almas subiam com a beleza do voar de vagalumes, dando o fim ao desespero. O mar agitou-se novamente e foi-se o último sinal, a Lua voltou a pousar sua luz nas águas, que ocultaram o recente sofrimento que ali houvera, enquanto as ondas voltavam a dançar alegremente, compassadas pelos doces sopros, que nasciam dos suspiros de lugares desconhecidos.